Na edição do dia 02/04/2015 do Jornal da Cidade Rudge Ramos foram publicadas as matérias "Jovens dormem menos tempo do que deveriam" e "Tecnologia também é problema", citando a pesquisa do IPOM e a psicoterapeuta holística e hipnóloga Myriam Durante. Confira:
Os jovens têm cada vez mais dificuldades em relação ao sono. Com uma rotina agitada de estudos e trabalho, eles acabam tendo poucas horas para descansar, fazendo com que surjam alguns problemas em seu sono.
Uma pesquisa realizada pelo IPOM (Instituto de Pesquisas e Orientação da Mente), realizada com 1830 jovens entre 14 e 18 anos de sete das principais capitais brasileiras, declara que 43% dos jovens dormem em média de três a cinco horas por noite. Os especialistas recomendam que o ideal é dormir por volta de sete a nove horas.
As principais dificuldades, de acordo com o estudo, são: 53% relacionadas aos estudos, 43% insônia e problemas financeiros e 37% com a família.
A psicóloga Tatiana Serra explica que precisamos de uma boa noite de descanso para que dê tempo suficiente do cérebro reprogramar, recuperar e rearmazenar as experiências que teve no dia. Então, quando uma pessoa dorme pouco ou mal, prejudica a memoria e a atenção.
“Se um jovem, por exemplo, que estuda a noite e vai dormir por volta da 1h da manhã e acorda às 6h, não é o suficiente para reestruturar tudo que aconteceu durante o dia, então provavelmente esse jovem terá um déficit nos conteúdos da escola e tarefas do trabalho.”
A psicóloga explica que se a pessoa sente que precisa descansar mais do que o tempo considerado certo, é sinal que ela não está dormindo da maneira correta e precisa de ajuda.
Uma noite mal dormida, além de prejudicar a saúde e desenvolver distúrbios no organismo, pode prejudicar também socialmente a pessoa. Tatiana conta que dessa maneira as pessoas não vão conseguir manter a atenção em uma conversa e vão se estressar facilmente.
O neurologista Roger Taussig conta que um dos problemas presentes na vida dos jovens é a síndrome do atraso na fase do sono, que consiste em sintomas quem duram seis meses e há dificuldade de iniciar o sono e de acordar em horários normais.
“Essas pessoas têm o horário em que estão mais ativas no final da tarde e no começo da noite, então vemos que tem uma modificação daquele relógio biológico interno que define os horários de vigília e sono”, explicou o neurologista.
A pesquisa do IPOM mostra também o fato do jovem acordar e dormir várias vezes ao longo da noite, e esse problema atinge cerca de 47% dos jovens, enquanto os demais demoram para pegar no sono.
Para a estudante Juliana Reviere, 18, moradora de São Caetano, conta que o sono dela é desregulado em questão de horários, e que dorme de seis a sete horas. Se dorme por mais tempo, fica cansada e sonolenta durante o dia.
“Procurei ajuda médica e me disseram para tentar maneiras diferentes de dormir, então às vezes durmo com músicas ou incenso para melhorar o ambiente, e isso geralmente me ajudar a dormir melhor”, contou Juliana.
As causas que geram problemas no sono dos jovens vão variar de pessoa para pessoa. As circunstâncias podem ser consequências de estilo de vida, problema genético ou hereditário, e até mesmo a ingestão de algum medicamento ou tratamento que fez, pondera o especialista.
A sonolência diurna, explica Tassig, pode gerar dificuldades de memória, de concentração e dificuldades no aprendizado. “Em alguns estudos, as causas mais frequentes que geram a insônia nos jovens são a ansiedade e a depressão. É claro que podem ser consequências de problemas financeiros, excesso de trabalho, estudo, pressão familiar e/ou ambiente de competitividade”, falou o neurologista.
Na visão da fundadora e presidente do IPOM, a psicoterapeuta Myriam Durante, hoje os jovens estão levando uma vida tão corrida que mal sobra tempo para cuidar de si mesmo. “Muitas vezes eles só conseguem ‘apagar’ por exaustão, estando sujeitos às complicações de saúde física e mental, cabe aos pais orientar os filhos a terem a importância da saúde, uma vida saudável está ligada diretamente a qualidade do sono”, concluiu Myriam.
Tecnologia também é problema
Televisão, celular e videogame. Estes são os principais problemas que o jovem enfrenta para ter um bom sono. Quem garante é a psicóloga e professora especialista em juventude e cultura, Angela Biazi Freire. “É sabido que as telas e a linguagem da TV, da internet, etc., funcionam como estimulantes, que na maioria das vezes dificultam o sono ou a boa qualidade dele. Na linha de rituais de relaxamento para o sono e desligamento gradual das atividades do dia, as telas são grandes dificultadores e devem ser evitadas.”
Este é um problema que a estudante de Relações Públicas, Mayara Carmo, de 21 anos e moradora do bairro Demarchi, em São Bernardo, enfrenta. Ela tem o costume de antes de dormir, já deitada na cama, checar as últimas atualizações de seu perfil no Facebook e Instagram, duas plataformas de “vida online”. “Eu sempre entro só para dar aquela ‘olhada final’, mas acabo ficando mais de uma hora todos os dias”, afirmou Mayara mesmo sabendo que no dia seguinte às 10 horas tem de estar em seu estágio na cidade de São Paulo.
A pesquisa ‘Como está a qualidade do sono dos jovens?’, feita pelo IPOM, mostrou que apenas 4% dos entrevistados deixam de lado o celular antes, durante e depois de dormir. O mais comum são os jovens que, ao deitar, colocam o celular carregando ligado e próximo a eles – 42% - sendo que 37% destes com os sons ativados. A amostra aponta também que 13% dos entrevistados costumam, ao deitar, perder a hora de dormir por estarem conferindo as últimas novidades de suas redes sociais, o caso de Mayara; outros 18% afirmaram já ter acordado durante a noite para mexer em seu smartphone. “O uso permanente desses meios geram uma necessidade de estar sempre conectado, como se a ausência de acompanhamento o deixasse “atrasado” ou “excluído” das últimas informações, gerando uma sensação de desprestígio ou desvalor. Esses rituais acabam se intensificando, em alguns casos, e causando a dependência ou a compulsão, que nada mais é que a tentativa de manter um controle sobre a rede”, afirmou a psicóloga Angela Biazi Freire.
Além do smartphone, outros eletrônicos foram citados pelos jovens durante a pesquisa. Aproximadamente 22% dos jovens dormem com o computador ligado próximo à cama, enquanto 45% deles dormem com a TV ligada. Um caso semelhante é o de Felipe Groba, de 20 anos, estudante de economia e morador da Vila Pires, em Santo André. Ele se diz viciado em Netflix, ferramenta paga que traz um catálogo de vídeos ao dispor do consumidor, e não consegue lidar, muitas vezes, com seu tempo. “Estou assistindo uma série que é muito empolgante. Por ter acesso no meu quarto, sempre assisto antes de dormir. Teve dias que só consegui desligar às 4h30 da manhã e no outro dia tinha de acordar às 7 horas para trabalhar”.
Os especialistas estão atentos a estas disfunções percebidas na juventude brasileira. “A frequência deste fenômeno vem sendo cada vez maior, a ponto de ser identificado pelos médicos como um novo transtorno psíquico a ser acrescentado no rol das doenças e que exige tratamento específico“, finalizou a psicóloga Angela Biazi Freire.